Dias antes de visitar a Feira do Livro de Lisboa- estará dia 13, sábado – para uma sessão de autógrafos, a jornalista e antropóloga brasileira Maria Silvério falou à SÁBADO sobre a prática do swing em Portugal, que investigou em 2012 e 2013, sobretudo no clube Divinus Aroeira Liberal e entrevistando seis casais. O fenómeno do poliamor e o seu crescimento é outro tema abordado.
O seu livro é sobre swing. Que tipo de casais procura essa prática em Portugal?
Ainda ocorre o predomínio de pessoas de classe média e média-alta, com educação elevada e acesso a bens culturais. A localização dos clubes, acessíveis maioritariamente apenas com transporte privado, e a falta de informação sobre a prática parecem contribuir para isto. A faixa etária média dos frequentadores do clube onde realizei a minha pesquisa é de 40 a 60 anos, mas muitos swingers disseram que a participação de jovens está a aumentar.
E há algum detalhe distintivo?
Quais são os gastos envolvidos na prátic a de swing?
A prática do swing pode envolver uma série de gastos além do preço de entrada e consumo nos clubes: a compra de roupas e lingeries sensuais, idas a restaurantes para conhecer novos casais, e, até, a aquisição de máquina digital ou computadores para armazenar as fotos do casal. No meu livro, cito um estudo do economista Fabio D’Orlando que afirma que as actividades relacionadas com o swing, como clubes, viagens, anúncios e páginas na internet, correspondem a 14% de facturação da indústria global do sexo. Isso significa aproximadamente 1,1 mil milhões de euros por ano.
Os portugueses associam o poliamor com promiscuidade, falta de respeito, pessoas desviantes (…) As pessoas continuam a defender que só é possível envolver-se afectiva e sexualmente com uma única pessoa de cada vez
Existe quem confunda poliamor com a prática de swing. Quais são as diferenças entre ambos?
O swing pode ser definido como uma prática em que casais heterossexuais estáveis mantêm relações sexuais com outros casais ou pessoas solteiras na companhia e com o consentimento do parceiro. Os swingers colocam grande ênfase na separação entre amor e sexo. Desta maneira, eles consideram-se amorosamente monogâmicos e sexualmente não-monôgamicos. Já o poliamor caracteriza-se pela liberdade e o direito de se envolver em relações íntimas, amorosas e/ou sexuais com mais de uma pessoa simultaneamente, desde que haja consentimento entre todos os envolvidos.
As relações são encaradas da mesma maneira?
Apesar do envolvimento sexual com outros casais, o foco dos swingers é o seu relacionamento conjugal. A maior parte das pesquisas que cito no livro ressalta que o swing proporciona mais benefícios do que consequências negativas não só para a relação como para os swingers enquanto indivíduos.
Que benefícios são esses?
As respostais mais comuns são que o estilo de vida fortalece o casamento e aumenta a percepção acerca da qualidade do mesmo. Os swingers consideram que a prática aproxima o casal emocional e sexualmente, melhora a vida sexual e aumenta o desejo pelo parceiro. Muitos dizem ainda que propicia uma comunicação mais aberta e honesta.
E no poliamor não é assim?
Ao contrário do swing, o conceito de amor é central no discurso dos poliamorosos e não existe a valorização de um casal como eixo central. Além disso, o poliamor não está ligado a um tipo de identidade sexual específica, abrangendo relações heterossexuais, homossexuais ou bissexuais, às vezes simultaneamente.
Quando surgiu esta prática?
É difícil dizer exactamente quando surgiu o poliamor, mas, ao que tudo indica, a prática começou a ganhar visibilidade social e científica nos EUA a partir de meados dos anos 1990, expandindo-se para outros países apenas após o ano 2000. No entanto, o adjetivo “poliamorista” parece ter aparecido num livro pela primeira vez em 1953.
Há cada vez mais casos ou o tema é mais falado e divulgado?
Não sei afirmar se tem aumentado, mas com certeza há cada vez mais divulgação e informação. No meio universitário, por exemplo, o número de estudos sobre o poliamor e outras formas de relações conjugais não-monogâmicas tem aumentado. Entre os dias 25 e 27 de Setembro, por exemplo, Lisboa irá sediar pela primeira vez uma conferência internacional sobre relações não-monogâmicas e intimidades contemporâneas.
Há dados sobre a comunidade de poliamor em Portugal?
Infelizmente, não há muitos dados a respeito e o movimento poliamoroso no País ainda está a ganhar forma. Existe uma comunidade no Facebook que reúne cerca de 600 pessoas, mas é difícil dizer quantas destas vivem ou já viveram relações poliamorosas se são portuguesas ou vivem no País. E, claro, provavelmente existem pessoas por aí que vivem relações poliamorosas mas nem sequer utilizam esse termo ou conhecem o movimento a respeito.
Acha que os portugueses aceitam bem a prática do poliamor?
Não. Existe muito preconceito, discriminação e intolerância. De um modo geral, os portugueses associam o poliamor com promiscuidade, falta de respeito, pessoas desviantes. As relações conjugais na nossa sociedade são sustentadas pelos valores de monogamia, heterossexualidade e indissolubilidade. Mas se prestarmos bastante atenção, só a monogamia ainda é um valor praticamente incontestável pelos diversos sectores sociais. As pessoas continuam a defender que só é possível envolver-se afectiva e sexualmente com uma única pessoa de cada vez.
Ainda existem diferenças entre a liberdade sexual entre homens e mulheres?
Sem dúvida! Esta questão também é abordada no meu livro pois ajuda-nos a compreender melhor a nossa maneira de vivenciar a sexualidade, o amor, as relações conjugais. No caso do swing, por exemplo, a iniciativa é esmagadoramente masculina. No caso do poliamor, alguns homens dizem que quando contam para os amigos que têm mais de uma namorada são felicitados e invejados. No entanto, quando o poliamoroso explica que as suas namoradas também têm outros namorados, as reações são inversas: “então, és cornudo”.
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